quarta-feira, 27 de abril de 2011

"El Jazz desde la perspectiva caribeña"

Acabo de participar de um congresso de jazz na República Dominicana, de 15 a 17 de abril, 2011. Estive lá ouvindo músicos/professores, musicólogos e produtores musicais sobre as perspectivas do jazz no Caribe, mas com extensões para a América Latina como um todo. Também apresentei um seminário sobre “ritmos brasileiros: da tradição ao jazz brasileiro”, para uma sala lotada e super interessada em saber tudo sobre música brasileira, assim como nós: eu, Marcelo Gomes (www.myspace.com/marcelogomesguitar), que falou sobre o Samba Jazz e Thais Nicodemo (www.myspace.com/pianothaisnicodemo), que falou sobre a obra de Ivan Lins, estávamos sedentos pelo conhecimento e experiência sobre a música caribenha e pelo que chamamos ritmos latinos, ou cubanos.

Giovanni Hidalgo era um dos convidados no concerto central, 15/04/11, no teatro municipal de Santiago. Filmagem inédita que fiz com minha câmera de fotos... Mas dá para sentir a energia!!
República Dominicana é o país do merengue e com a presença de músicos porto riquenhos e cubanos ficou ainda mais claro como é rico e bonito o universo dos ritmos latinos, e como muitas das distinções, detalhes e sutilezas da música caribenha não são simples de serem compreendidas. O contraste entre o afro-cubano 6/8 (o Bembe), e os ritmos de clave 4/4 como mambo, rumba ou merengue é utilizado com freqüência em arranjos e também como material para solos. Por exemplo as tercinas agrupadas em quatro sobre um ritmo de clave 4/4 ou vice versa são como divertimentos para os percussionistas, as grandes estrelas da música caribenha, que foi desenvolvida essencialmente em Cuba, mas que foi tendo desdobramentos da Colômbia à Nova Iorque. Um sexteto latino pode muito bem ser um piano-baixo-bateria e mais três percussionistas. Certos arranjos de harmonia simples (sob o ponto de vista da bossa nova) pareciam grandes tecidos/bases para a festa da percussão.

O congresso foi Santiago de los Caballeros, mais ao norte da ilha, onde estão República Dominicana e Haiti, onde foi a primeira chegada de Colombo e a Calle Las Damas (foto ao lado) é considerada a 1ª rua da América. Tocamos no congresso e no Dominicain Jazz Fest em Santo Domingo (foto acima), a capital. Foi muito bom sentir o envolvimento do público com o jazz brasileiro e sua alegria ao ouvir temas de bossa nova como “Wave” e “Meditação”. É incrível como a bossa nova representa o Brasil pelo mundo e digo isso baseado também em shows que fiz em muitos outros países e nos quatro anos que vivi em NY (2006-10). Esse fato, para mim, tem dois lados que são o prazer de que música de qualidade brasileira seja admirada e, ao mesmo tempo, um certo "aprisionamento” da "Música Brasileira" à bossa nova, aos anos 60, tempos de grande impacto no mercado norte americano, só que há 50 anos atrás... Depois disso muita mais coisa aconteceu em termos de música brasileira em geral, mas falamos disso em outra postagem.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Jazz nos Fundos - Felix Astor e banda
Aprendendo (?) a ouvir Jazz


Assistir a um show bom é sempre muito bom. Ver e ouvir músicos bons tocando é sempre muito "bons" também. Oito de abril, 6ª passada, fui ao Jazz nos Fundos, uma casa noturna moderna e com diferenciais interessantes, como, por exemplo, um sinal que toca para anunciar o começo do show e elegantemente convida, através de uma gravação, que as pessoas respeitem aos músicos e ao público, falando baixo ou se afastando do palco quando quiserem realmente conversar... http://jazznosfundos.net/

O show da noite era de um amigo especial, Felix Astor, um grande baterista de jazz alemão e que tem um trabalho de pesquisa verdadeiro com a música brasileira. Além de conhecer os principais ritmos, ele toca percussão, fala português, toca e canta um repertório de mais de 100 músicas (sambas e bossas) ao violão. (www.felixastor.de) Determinação e dedicação total, Felix já viveu por duas vezes no Brasil e nessa última visita formou uma banda com Gabriel Improta, excelente violonista e compositor carioca, Zeli Silva ao baixo e Antônio Barker ao piano, ambos com carreiras notáveis como solistas e acompanhantes e, com os quais trabalhei vários anos no grupo de jazz brasileiro “Terra Brasil”, duas vezes indicado ao Latin Grammy. No repertório da noite, músicas próprias e temas como “Corrupião”, Edu Lobo, “Nanã”, Moacir Santos, uma versão em samba de “Well, You Needn't”, de Thelonious Monk, “Amazonas”, João Donato, entre outras. Assista a primeira entrada através desse link: http://www.ustream.tv/recorded/13866710

Eu estava com um grupo de amigos, alguns músicos, outros não. Com um deles, que trabalha na área de administração, surgiu o papo sobre o jazz, seus fundamentos e procedimentos. Como os músicos, de repente, terminam juntos, como ‘floreiam’, termo que usou se referindo à improvisação e depois, misteriosamente, a ‘música’ (ele se referia à melodia) aparece de novo. Gestos e olhares entre os músicos que decidiam o rumo do ‘arranjo’, essas coisas todas que permitem que músicos de qualquer parte do mundo que compartilhem desse universo e seus códigos, possam fazer música juntos. Como esse meu amigo conhecia a melodia de “Amazonas”, eu segui cantando para ele a melodia enquanto os improvisos aconteciam e ele percebeu o movimento das partes, a harmonia diferenciada da parte (B) da música, tudo sem nomes e especulações teóricas que cabe a nós, músicos, fazermos. No intervalo eu comentei sobre a forma AABA daquela música e um pouco sobre procedimentos usuais na prática jazzística. A maneira como ele começou a ouvir o som se transformou completamente e podia sentir quando um dos músicos iria terminar seu solo, o outro começar, quando a melodia voltava e, fundamentalmente, que o ciclo harmônico girava sem parar, estabelecendo limites que, de fato, tornam infinitos os desafios para os músicos.

Interesse e prazer passam, eventualmente, pelo entendimento... e tudo isso numa conversa de bar.