segunda-feira, 25 de julho de 2011

Duo: Eddie Gomez e John Abercombrie

Assisti a muitos shows em NY entre 2006-10. Muitas vezes eu saí, ainda que sozinho, só para ver ao vivo e de perto um músico de quem eu realmente gostasse, como fiz com Ron Carter, numa noite com muita, muita neve, no fim de 2009. A bota afundava em montes de neve já derretidos por dentro e o pé inteiro, bota e meias ficavam encharcados... Mas tudo bem, essa noite valeu o movimento que fiz e, em geral, quase todas as vezes valeram a pena. John Scolfield com Bill Stweart na bateria, Chick Corea com Airto Moreira e Eddie Gomez, Duduka da Fonseca com Trio da Paz, John Riley - seu jazz groove e seus "acabamentos" impecáveis - com a Viillage Vanguard Big Band e muitas outras gigs mais informais com Brian Blade na bateria, Horacio Hernandez, Jeff "Tain" Watts e vários outros músicos que não são famosos no Brasil...

Mas esse duo foi algo de muito especial e uma nova referência de "fazer música". Eddie (www.eddiegomez.com) e John (www.johnabercombrie.com; foto: Curtis Burns) tocaram standards de jazz, como "Stella by Starlight", "Just Friends", "Autumm Leaves" e algumas composições do Abercombrie. A informalidade era clara e eles trocavam algumas palavras antes de iniciar as músicas, ora juntos, ora um deles propondo uma introdução em ritmo inesperado. Algumas vezes, John tocava o tema em bloco de forma livre, sem tempo definido, outras Eddie já saía improvisando sobre a música. Soava um quarteto porque ambos usavam a voz: Abercombrie balbuciando o próprio solo e Eddie, com sons diversos, cantando os solos, sons rítmicos, usando um diversidade incrível de timbres e trazendo uma expressividade à música que quase não consigo descrever. 

A forma como eles se ouviam, as diversas com que reagiam, a busca por texturas, a consciência absoluta da forma das músicas que eles cresceram tocando, mas que reviam, reliam e respeitavam-nas era emocionante. De vez em quando, eu abria meus olhos para ver como Eddie estava conseguindo certos grooves, com que movimento das mãos, usando a voz e com um grau de concentração que, ufff... É claro que, como baterista, seria natural que eu pensasse: "uma bateria ia ficar demais nesse som", mas isso não aconteceu. Eu nunca tinha ouvido Eddie Gomez com toda aquela liberdade tocando músicas que, em geral, eu conhecia, com um super guitarrista que tem um discurso moderno e de notas muito mais "ligadas" do que palhetadas, constrastando ainda mais com os grooves de um baixista acostumado a tocar com Steve Gadd e com todo o espaço mais e mais criativo... Demais!
Esse é o show do qual mais me recordo em meus quatro anos vivendo em NY.


quarta-feira, 13 de julho de 2011

Alex Acuña: A música é um presente divino

"Reconheçam o presente que é a música. Tenham perseverança e disciplina. Essa última ajuda na formação do caráter do homem que é correto e sabe se comunicar. Saibam amar o próximo, a música, seus instrumentos e sigam seus sonhos firmemente. Pratiquem, escutem todo tipo de música e aprendam um instrumento melódico. A idade não importa, pois a música é um presente divino para os homens”.

Essa foi a resposta de Alex Acuña a “que dicas você daria para que jovens músicos caminhem rumo ao sucesso pessoal e profissional”, em entrevista que realizei em novembro de 2000, (Batera&percussão nº39) quando era editor da revista... É só por numa moldura e pendurar nas paredes das escolas de música, para inspirar o estudante e ajudá-lo a recordar 'o quê  ele está fazendo ali'.

Alex Acuña nasceu no Peru e com dezoito anos foi para os EUA com Perez Prado. Depois viveu em Porto Rico e me disse tocar profissionalmente desde os dez anos de idade, percussão e bateria com a “mesma atitude” em suas palavras. Adora música brasileira e sabe como tocar: “quando se gosta de uma música é fácil aprendê-la”, disse.
O grande marco em sua carreira profissional no universo do jazz norte americano foi o convite de Joe Zawinul para tocar com o incrível grupo Weather Report, em 1975.

Com o sucesso vieram outros desafios: “vivemos uma vida muito obscura e estive à beira da loucura nessa época, mas felizmente tive olhos para ver e ouvidos para ouvir que Deus queria minha vida para engrandecer sua existência. Se não tivesse “ouvido” não estaria aqui para “ver” tudo isso”, como  aconteceu com Jaco (Pastorius). Perguntei de que forma a religiosidade influenciava sua música e se existia uma religião específica e ele disse: “não é uma religião, mas uma relação. Está no meu coração e só”.

Alex disse que em casa estuda o que 'não sabe', o que tem de praticar e melhorar. Sobre a nova geração de músicos disse gostar muito de aprender quando surge um jovem músico tocando coisas novas, mas que, por outro lado, não gosta daqueles que imitam os grandes como Steve Gadd ou Dave Weckl. Alex tem grande consideração por Horácio Hernandez (estive com ele e fui super influenciado pela sua concepção de claves e pelo seu amadurecimento ao tocar simples e adequadamente 'quando a música pede' ainda que com todos os seus recursos, mas isso fica para outra postagem...) e Julio Barreto. 

Tive a oportunidade de me encontrar com muitos bateristas e percussionistas durante essa época e, claro,    recebi coisas boas de todos eles. Naturalmente me encantei mais com uns do que com outros, e assim são os encontros entre pessoas. Encontrar e conviver por algumas horas com Alex Acuña foi uma experiência diferenciada, sem a vaidade e o orgulho presentes em todos nós em maior ou menor grau. Foi um contato profundo e da qual sempre me recordarei.
Abaixo um vídeo com Acuna, Hoff, Mathisen Trio e outro 'quebrando tudo' em instrumentos de percussão e chegando até a bateria.





quarta-feira, 6 de julho de 2011

Big Band da Fundação das Artes!!!

Logo depois que cheguei dos Estados Unidos, em 2010, a Fundação das Artes de São Caetano do Sul, aonde trabalhei durante toda década de 90, me convidou para dirigir a sua Big Band, o que foi muito legal porque pude praticar exatamente o que havia estudado no mestrado com um grupo heterogêneo, estudantes e profissionais, populares e eruditos e músicos com diferentes níveis de experiência. 
Familiarizar o grupo com os gêneros que estávamos tocando e buscar a "pronúncia" das notas no swing correto foram nossos primeiros passos. Em seguida, os naipes tinham de desenvolver "uma voz" afinada e que caminhasse com passos de mesma duração e com uma intenção clara que começa antes da emissão da nota. Dinâmicas, 'crescendos' e 'diminuendos' foram sendo conquistados e a consciência do “foco” foi sempre um dos objetivos. Questões como: o que está acontecendo agora no grupo e qual a minha função? Meu instrumento é melodia, back-ground, está dobrando outro instrumento ou está em bloco? Se minha linha está em bloco, que voz do acorde ela está tocando? Qual a melhor levada para esta seção, que tipo de fill vai ajudar a banda a ficar mais confortável?.....
Acho que eu estimulei esse espírito de busca em parte do grupo, o que já é uma alegria. 

Da minha parte, além do compromisso em melhorar continuamente, liderar com gentileza, equilibrar seriedade musical com o bom humor pessoal é como entendo que deva ser conduzido um trabalho, qualquer que seja ele.Trabalhar com a "Big da Fundação" me ajudou a reencontrar alguns referenciais e uma certa alegria que havia se perdido em algum lugar, em algum momento, entre um e outro país. O astral entre eles é leve e divertido, o ambiente da escola é muito bom, sem falar no fato que estou de volta ao meu país, minha cultura, e falando minha língua...
Abaixo duas peças tocadas pela "Big da Funda" em 21 de junho, 2011: "Maracatu-Check This Out", que fiz algum tempo atrás e "Aquela Coisa", Hermeto Pascoal, arranjo Felipe Salles, sax tenor solista convidado deste concerto.