segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Berimbau jazz - Marcelo "Preto" Gomes



Marcelo Gomes é guitarrista, compositor, professor e grande parte de suas composições estão nos cinco CDs do grupo de jazz brasileiro Terra Brasil, sobre o qual tenho comentado e mostrado algumas faixas para você que acompanha este blog. Samba, baião maracatu e ijexá são ritmos presentes em suas músicas, além de um veio mais latino: sul-americano e caribenho. http://www.myspace.com/marcelogomesguitar

O berimbau sempre exerceu um fascínio especial sobre meu irmão, Marcelo. Sua composição intitulada "Chino" - disponível no player acima - do CD "Questão de Tempo" é baseada num ciclo modal, onde o baixo toca ostinatos inspirados em toques de berimbau e na gravação eu toquei dois berimbaus afinados: o gunga, berimbau grave de base em (B, si) e o viola, berimbau agudo que gravei em overdub em (E, mi). Ambas as notas são afins com o ciclo harmônico da música e cumprem uma função "pedal" sobre a qual toda a composição acontece... Ele diz que é uma capoeira chinesa, mas até hoje (don’t tell him!), honestamente, não sei bem por que. A música é muito bonita e propõe um conceito que associa a tradição afro-brasileira com o jazz brasileiro contemporâneo.

Além dos dois berimbaus, usei diversos efeitos como o gongo submerso criado por John Cage, compositor que conheci quando estive envolvido com percussão do século XX, durante meu bacharelado em percussão erudita, na UNESP. Há também seções com de pratos 'crashs' de tamanhos diversos tocados com baquetas macias. Os solos são todos de cordas, guitarra, violão e berimbau sobre o tema final (head out), que tem função híbrida de re-exposição e background para o solo do berimbau viola que é uma idéia muito criativa do arranjo.

Os Irmãos Gomes em Vitória, ES, 70s
Marcelo tem um CD solo - lançado pela CPC Umes - "Preto", um trabalho super inspirado, muito bem tocado e que pode ser encontrado em boas lojas por todo Brasil. Ele sempre foi uma fonte de aprendizado musical para mim e é um artista que busca incessantemente os conceitos por trás das estruturas, instigado pelo folclore, pelo jazz e pela música brasileira. É uma sorte e um grande prazer que ele seja meu melhor amigo.

Um comentário:

  1. De fato, o resultado ficou tão interessante que pretendo fazer um disco inteiro com esse conceito. Há alguns elementos estéticos na capoeira que são muito interessantes. Só para citar dois: primeiro, a falta de lógica enquanto luta - quem já viu uma luta que o sujeito fica gingando pros lados? e a outra é esse lugar do jogo ( aliás, fala-se "jogar" capoeira), algo que não é nem dança nem luta, e que sempre se sabe de antemão se atingiu ou foi atingido, sem a necessidade de que golpe faça contato. Geniais caminhos da cultura afro-brasileira sobrevivendo em meio a tantas perseguições. Abração, Marcelo Gomes.

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