sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

"Medusa" - Música e Grupo


O samba que você está ouvindo agora (player acima) chama-se "Medusa" e compus inspirado pelo trabalho do grupo  instrumental brasileiro de mesmo nome e que foi muito importante no começo dos anos 80. Com Amilson Godoy, piano, Claudio Bertrami, baixo, Chico Medori, bateria, Heraldo do Monte, guitarra, Théo da Cuíca e Jorginho Cebion, percussão, em sua primeira formação, o grupo  produzia um som moderno, brasileiro, com muitas convenções e seções para solo de todos os integrantes. 

Em 1981 lançou seu 1º disco, "Medusa" e, em 83, sem Jorginho e com Olmir Stocker na guitarra, o grupo lançou "Ferrovias", seu segundo e último disco. A cuíca de Théo dobrava melodias em certas seções e era uma presença marcante no som do grupo. Inspirado por ela e por todo som que esses grandes músicos produziram naquela ocasião, compus "Medusa" que está em meu CD solo "Cidades Imaginárias" (disponível para compra online: http://www.cdbaby.com/Search/Y2lkYWRlcyBpbWFnaW5hcmlhcw==/0 ) dedicado ao grupo. Para ouvir o grupo Medusa: www.myspace.com/grupomedusa

Na música, o contra-baixo toca a frase de 'centro', que tanto funciona como 'introdução', como base sobre a qual toda a parte 'A' da música foi desenvolvida. Trata-se de um ostinato (frase ou célula musical que se repete) que foi desenvolvido a partir de uma frase de samba da "velha guarda da mangueira" e que depois percebi ser também uma frase tética e tradicional  de samba, como um telecoteco enxuto, com menos notas duplas, começada com antecipação de uma semicolcheia. 
Abaixo você pode ver a frase com antecipação (1) e a frase de samba tética (2). É legal pensar sobre e se divertir com esse deslocamento tocando em seu instrumento.

Abaixo e a direita a frase melódica do baixo em Cm (Dó menor) numa composição que caminha para EbM (Mi bemol maior) na parte 'A' e que usa exatamente o ritmo da frase antecipada.

Na cuíca, o percussionista "Ligeirinho", que tocou a cuíca solo e outros instrumentos de samba na seção de solo de flautas (aguda em C, Celso Marques; grave em G, Mário Aphonso III) + percussão + bateria, sem harmonia, só a conversa melódica entre as flautas e o ritmo. No baixo, Robertinho Carvalho, piano, Moisés Alves e eu na bateria e percussão.  O contraste proposto entre as as partes A (em modo menor sobre o ostinato do baixo com bumbo só no 2º tempo) e B (modo maior em samba mais solto) somado às longas seções de introdução com cuíca solo dão a composição cores e climas diferentes.

Um comentário:

  1. Felipe Nunes (pianista)26 de fevereiro de 2012 às 22:13

    Incrível lendo seus comentários lembro exatamente da aula que fizemos na faam sobre essa música. Lembro-me de você explicando o deslocamento da semicolcheia (naquela época entendi em partes e hoje entendo totalmente). Percebe-se, como em “Cidades Imaginárias”, o tema com discurso curto, simples e muito rico riticamente que foi dando um tempero brasileiro que só essas características manifestam. Vale ressaltar que a conversa entre os flautista é simplesmente genial em alguns momentos parece até que foi escrito. A escolha dos timbres e entrada dos instrumentos foi de muito bom gosto, exemplo no fim da conversa dos flautistas a introdução de mais um ostinato no baixo que traz uma cor diferente quando acrescentadas notas e harmonias a uma sessão onde antes não havia. Muito bom gosto!

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